terça-feira, 28 de outubro de 2014

Vou sorrindo


¹"Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto do otimismo. “Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração.” Camus sabia o que era esperança. Suas palavras: “E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível…” Otimismo é alegria “por causa de”: coisa humana, natural. Esperança é alegria “a despeito de”: coisa divina. O otimismo tem suas raízes no tempo. A esperança tem suas raízes na eternidade. O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre. A esperança se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango à beira do abismo. Hoje, é tudo o que temos ao nos aproximarmos do século XXI: morangos à beira do abismo, alegria sem razões. A possibilidade da esperança …”

Rubem Alves


Texto produzido em 14 de abril de 2014. Ainda aplicável hoje. Todos os dias.

          Como eu me sinto no momento. Eu tenho ainda algumas lágrimas pequenas nos olhos, um aperto enorme na garganta. Um dos meus poodles ressona em cima da minha cama, alheio a mim, o que talvez seja melhor. Algumas frases não param de ecoar na minha cabeça, e eu tenho medo de não conseguir dormir bem pra acordar disposta amanhã. Uma delas é o que a Pamela disse uma vez: “A Pia era mó triste e a gente nem sabia...”, fazendo alusão a uma época bem mais antiga. A outra é uma que eu vi no tumblr (frequentemente buraco na internet pro qual eu corro quando me sinto miserável): “O mundo é bastante ilógico, mas –confesso- meu coração o supera”.
          Ilógica pode ser uma forma gentil de se referir à ideologia por meio da qual eu ministro meus relacionamentos. Não especificamente dessa vez, veja bem, o amor que eu nutro pôde sempre ser classificado como estúpido. Cego não: foi um dia, hoje usa óculos. Apenas estúpido, burro, grande e inegavelmente esperançoso.
          E é a esperança que dói. Aquela história de morangos na beira do abismo¹ e tudo mais. A não completa desistência ainda, o limite que de alguma forma não deu as caras mesmo depois de tudo. Eu sou um poço imensurável de passividade mesmo, um poço de perdão. Eu xingo, desligo na cara, bato porta, grito, choro, rodo a baiana, mas se me seduzir sendo bonzinho, eu vou, sorrindo. Pequenos momentos que se fazem válidos e me seduzem. Eu vou, a cada passo sentindo internamente o quanto eu e o meu amor somos dois teimosos do caralho que adoram ter pequenas lágrimas nos olhos. Eu vou, eu e meus morangos do abismo. Inclusive acho que é a ingestão desses morangos que estão apertando minha garganta.
          A Pia é triste ainda, e grandíssima parte das pessoas não faz ideia. Segredinho meu com Deus.

Pretendo que essa seja uma das últimas postagens do bloguinho... ultimamente venho querendo manter meus fluxos de pensamentos só pra mim, apesar da sensação de desabafo que o Crying in the Pia me proporcionou nesses anos e ainda proporciona de forma mais tênue. Ao longo dos anos desde a criação deste blog, eu aprendi que chorar quase nunca resolve nada -por mais que eu continue chorando horrores esporadicamente- , e fico um pouco feliz de encerrá-lo reparando que digivolvi nesse aspecto. 
 Não sei ao certo quantas pessoas ainda me leem, quem em sã consciência dedica parte do tempo corrido pra dar uma olhadinha no que eu penso, mas ainda sim: obrigada por serem interlocutores do meu mimimi e ficarem aqui comigo mesmo quando eu fui tudo, menos legal, justa e sã em meus devaneios. Perdão por isso.
Acho que a gente ainda se fala por aí.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Benção?

"E eu tenho certeza que ele gosta de você. Assim como eu tenho certeza que o X gosta de mim. A questão é: eu sendo quem sou não quero alguém que goste como ele gosta. Do mesmo jeito que você sendo quem é precisa, ou, no mínimo, merecia alguém que gostasse de você diferente de como ele gosta. Mas é deles que a gente gosta! Então eu me pego pensando, às vezes a solução é viver com isso, aprendendo a lidar, sei lá? Aprendendo a tocar o foda-se pra certas coisas? Mas aí eu lembro do sangue quente que corre nas minhas veias e sei que isso nunca vai ser possível pra mim, vai contra minha personalidade, contra quem eu sou... Mas aí já vai de você."

      Ás vezes tudo que você precisa é de um amigo no Whatsapp pra te fazer sentir especial de novo... A ignorância pode até ser uma benção, mas é importante ter conhecimento, nem que seja parcial, dos fatos, pra poder analisar uma situação de forma ampla e lógica.

domingo, 25 de maio de 2014

Ah, Gabito...

          "Você é aquele tipo de pessoa inconfiável, seus movimentos são joguinhos manipuladores, seus discursos nem se fala. Já faz tempo que parei de guiar minha vida com suas frases de para-choque de caminhão. Fui embora. Agora de uma vez. Sem volta e sem conversa. 
          Voltei para a casa dos meus pais, mas não por muito tempo. Meu antigo quarto virou uma sala de cinema. Talvez eu volte pra Lisboa. Aliás, não te interessa. Não estou dizendo isso porque no fundo te quero ralando joelho pelas ruas atrás de mim. Não dessa vez. Não vem com bombons, não vem com desculpas, não vem com canções. Não vem. 
          Se você tiver a fim de compreender o presente, precisa analisar o passado. Todo ele, dia a dia, cada palavra, seu borderô de atitudes passadas. Dá uma olhada em tudo que você fez e me diz. Viu? A novidade é que o dia que eu sempre prometi que viria, e que você nunca esperou chegar de verdade, veio. Eu cansei. Não sou mais eu. 
          Contou os anos? Quanto tempo esperei por você? Você crescer, você mudar, você mostrar algum remorso. Você tem de querer. Embora eu queira muito, mesmo eu querendo em dobro, não há como querer por você. 
          Só quem enfrenta longas esperas sabe como é o inferno por dentro. Eu sempre falei, um dia alguém tinha de te dizer não. Eu queria que não fosse eu, porque aí eu poderia ficar numa boa e assistir você sofrer, nem que seja calado num canto, mas sofrendo, mostrando algum arrependimento ou qualquer traço humano. Quem sabe eu até enfiaria os dedos ainda com anéis no meio dos seus cabelos e diria que tudo ficaria bem. Agora é tarde, meu anel já se foi, nem os dedos ficaram. 
          Só que você sempre dá um jeito de se safar. Ficar seria tolerar suas mancadas. Você precisa perder pra entender onde errou, que isso que você faz é um erro, um dos feios. Que evitar e não tocar mais no assunto não é perdão ou esquecimento. É sufocar. E eu estava sufocando, morrendo na praia em frente ao mar de rosas que você anunciou, cheia de pétalas grudadas no céu da boca, entupindo os bofes, sem ar, uma vontade constante de regurgitar de volta suas garantias de araque. 
          Partes de mim querem ir embora, partes de mim querem ficar. Ainda não terminei de gostar de você. Mas consegui. Agora fui. 
          Porque comecei isso querendo ser sua companheira, passei a cúmplice das suas maldades, e ficar dessa vez vai me fazer sua comparsa. Não é um “até amanhã”’ nem “até breve” e nem “até mais”. É um “até você mudar” ou “até você não ser mais quem você é”. 
          Até nunca, então.
                                                                                          — Gabito Nunes. 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Le Petit Pia

Devido a minha pequenez, as pessoas me têm fácil em suas mãos. Elas só não enxergam que, pequena que sou, escapo tão fácil por entre os dedos.
Devido a minha pequenez, as pessoas acham que sou leve e costumam me jogar pra cima. Elas só não contam que no meu bolsinho eu tenho uns paraquedinhas que amortecem minha queda.
Devido a minha pequenez, todos acham que podem esconder as coisas de mim no alto dos armários. Eles só não sabem que, como sou pequena, posso fuxicar nos menores e mais inusitados lugares. 
Devido a minha pequenez, todos acham que minhas orelhas, tão pequeninas*, nada ouvem. Que meus olhinhos não veem.

Eu tive 20 anos pra aprender a amar meu tamanho, e consegui. Talvez leve mais uns 20 pra não deixar ninguém me diminuir, crescer em cima de mim. Mas eu to no caminho.

*beijos, and! 

quinta-feira, 6 de março de 2014

Afáveis Vertigens

Ser um professor aqui, no Brasil, é realmente complicado desde que você decide ser um. Quando criança, toda vez que questionavam o que eu gostaria de ser quando crescesse e eu dizia que seria professora, costumavam fazer uma cara estranha, exprimindo uma emoção que na época eu não conseguia reconhecer. Por meio dessas experiências, ao longo do tempo eu percebi que a menção de virar professor podia causar expressões faciais estranhas, mas só fui compreender o porquê dessas no futuro, quando tomei conhecimento da desvalorização na qual o pessoal do giz na mão está inserido nos dias de hoje.
                Além das caras estranhas, algumas pessoas me disseram paras ser uma aeromoça. Algumas muitas pessoas me disseram para ser enfermeira. Inclusive, meu professor de ciências do Ensino Fundamental foi o pioneiro nisso de ter conhecimento sobre o caminho que eu pretendia seguir, e mesmo assim me aconselhar a seguir outro, no caso, iniciar carreira na área de enfermagem. Segundo ele, minhas notas na matéria eram boas o suficiente e eu daria uma ótima profissional nesse campo devido minhas maneiras gentis. Gentis, não, “afáveis”, ele disse. Eu estava totalmente preparada para perguntar a ele por que ele não se tornou um enfermeiro também, visto que era tão bom em ciências e ao mesmo tempo tão preocupado com a vida alheia quanto são os enfermeiros, mas eu optei por deixar a questão morrer. Enfermeira ou professora, o que for que eu fosse tornar-me, para ambas profissões eu precisaria de abundante paciência com os outros. E eu também não frustraria talvez o único indivíduo que me considerava “afável” na época.
          Ninguém hoje em dia sonha em ser professor. Ninguém é instigado a iniciar e permanecer nesse campo. Indo mais fundo nessa questão, ninguém quer ser um aluno também. Adentrando uma sala de aula, é latente que a grande maioria das crianças ali trocaria seus reinos por ficar em casa dormindo ao invés de estarem no colégio. They don't need no education. Eles costumam dizer que professores são chatos e que nada que está sendo ensinado poderá ser usado em suas vidas fora da escola.                                                                       
          Os pais das crianças que need no education comumente vão aos colégios reclamar do nível de educação daquela instituição. Eles querem saber por onde andam os bons professores, visto que aqueles dos quais o colégio dispõe não estão exercendo seu trabalho satisfatoriamente.
Ocorre que os bons professores estão em hospitais sendo enfermeiras, aplicando injeções e dizendo “Olá, Sr. Fernando! Como estamos nessa manhã? O Cóccix ainda dói?” porque todo mundo disse para fazerem isso. Todos disseram que seria uma carreira mil vezes melhor.
Mesmo depois de todos esses anos de desincentivo, eu estou estudando para ser uma professora. Acordando cedo todos os sábados às 5h30min para ir à faculdade e me formar como uma docente. Eu sou realmente muito teimosa. E eu odeio sangue, também. Minha mãe é enfermeira, e apenas seus relatos de seus dias de trabalho bastam para me dar vertigem.
                Deus queira que mais pessoas sejam teimosas. E que um dia as pessoas não precisem apresentar vertigens para seguir seus sonhos. 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Perdoa

Se existe isso de amor da vida, você foi o meu.

Fiquei bem uma hora tentando escrever alguma coisa mais profunda, mas veja bem, meu bem, meu léxico é bacana, mas hoje as palavras me traíram. Ausentaram-se bem quando eu mais precisava me expressar. Tem mais alguma coisa pra falar? Tenho. Mas palavra nenhuma me expressa, assim como beijos, abraços e choros também não o fazem. Acredito que o mais próximo que conseguiu foi o roçar da minha boca na sua barba. Mil maneiras pra tentar dizer que você foi o meu.

Agoniza, mas não morre. Amor. De repente bateu uma vontade de chorar... a gente nunca perdoa verdadeiramente.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Enfim

E daí já que você pediu, eu vou.

Quem liga? Paciência se cada pedacinho do meu corpo vai sentir falta do seu, ou se vai lembrar como era legal sua mão repousando na minha pena enquanto o sinal permanecia vermelho. Minha mão vai sentir saudades de segurar seu dedinho enquanto a gente caminha, mas novamente, quem liga? O pessoal do Spoletto e do Romildo vão sentir também, quem sabe, alguma dia, nossa ausência (sentirão mais a ausência do nosso dinheiro, então não vamos ligar pra isso também.)

Ligo sim. Os capítulos da minha vida vão sentir falta de cada um dos seus. Mas eu vou, só que levando comigo meu coração. Por mais que ele tenha lá suas recaídas e me fale "que pena" às vezes -ou muitas vezes-, ás vezes -muitas vezes?- é preciso parar de putaria e racionar. Se Deus deu a mim o cérebro que ele concedeu a uma pomba, eu consigo racionar e chegar à conclusões que vão arrastar meu coração no cascalho até ele calar a boca.

E eu queria que a dor não fosse tão necessária pra gente saber que valeu a pena...