domingo, 29 de maio de 2016

Sobre sonhos e utopias amorosas

          Se há uma pessoa que entende plenamente minhas frustrações, dores e amores é a Mayara. Ela não apenas me escuta, mas também não me julga nem tenta me acalentar com conselhos furados. Ela não me diz que as coisas vão ficar bem: ela diz que tudo vai ficar ruim mesmo, que um cara que vá me dar devido valor ainda tá pra nascer, e se nada der certo até determinado momento, a solução mais viável seria a gente casar. E por mim ótimo, apesar que eu estaria fadada a intermináveis sessões de cafuné todos os dias. Obrigada de qualquer forma, Mayura, eu te amo por isso e por outras várias coisas também.
         Mas a gente ainda tenta estabelecer outros relacionamentos, apesar dos pesares. Faz muito tempo que os meus sonhos não permeiam os âmbitos amorosos, mas os dela sim. Não tenho certeza se a invejo por isso, provavelmente não; mas o relato dela me lembrou um sonho que eu tive muitos anos atrás, aquele com o menino ruivo que apareceu quando eu mais precisava. Na época eu fiz a interpretação que mais se encaixava no momento pelo qual eu estava passando. Hoje, já faço outra.  
          Eu queria que os meninos oníricos existissem. Digo, existir até que eles devem existir, mas não são capazes de desempenhar o papel que aquele do sonho desempenhou. Não existe nenhum menino por aí capaz de fazer o que aquele do sonho fez, porque o meu menino ruivo era eu. Era eu quem devia me reerguer, me tirar da letargia. Eu tava acostumada a depender de influências externas pra conseguir me sentir gente, e eu precisei passar por poucas e boas até me sentir completa como agora. 
          Eu não quero inventar ninguém, e não quero que ninguém me invente. Eu precisei me tornar personagem das minhas próprias utopias amorosas, o que é meio arrogante, sim, mas é bom, e é pleno, e me satisfaz. E me empoderou o suficiente pra não aceitar nada que seja menos do que eu mesma. Eu preciso de alguém que partilhe do meu senso de humor absurdo e inusitado, que faça eu me sentir boba, não tonta. Alguém que me acompanhe, me entenda, me prefira. Que faça eu dormir sentindo que sou amada. Precisa nem ser ruivo.      
          E, meu Deus, eu fico de cara sobre como a gente consegue ficar louco, frustrado e feliz, tudo ao mesmo tempo, por alguém que é só uma ideia. 

domingo, 6 de dezembro de 2015

Nunca fui melhor

         Oi.
         Eu disse que não ia mais voltar aqui, mas senti necessidade de um aconchego familiar.
      Nem um milhão de letras em Caps Lock conseguirão, jamais, transmitir tudo o que eu tenho dentro de mim. Eu queria ser mais capaz, queria pensar maior, queria ser maior... queria que o que eu to sentindo nesse momento não durasse muito.
         To de saco cheio de amar errado.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Vou sorrindo


¹"Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto do otimismo. “Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração.” Camus sabia o que era esperança. Suas palavras: “E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível…” Otimismo é alegria “por causa de”: coisa humana, natural. Esperança é alegria “a despeito de”: coisa divina. O otimismo tem suas raízes no tempo. A esperança tem suas raízes na eternidade. O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre. A esperança se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango à beira do abismo. Hoje, é tudo o que temos ao nos aproximarmos do século XXI: morangos à beira do abismo, alegria sem razões. A possibilidade da esperança …”

Rubem Alves


Texto produzido em 14 de abril de 2014. Ainda aplicável hoje. Todos os dias.

          Como eu me sinto no momento. Eu tenho ainda algumas lágrimas pequenas nos olhos, um aperto enorme na garganta. Um dos meus poodles ressona em cima da minha cama, alheio a mim, o que talvez seja melhor. Algumas frases não param de ecoar na minha cabeça, e eu tenho medo de não conseguir dormir bem pra acordar disposta amanhã. Uma delas é o que a Pamela disse uma vez: “A Pia era mó triste e a gente nem sabia...”, fazendo alusão a uma época bem mais antiga. A outra é uma que eu vi no tumblr (frequentemente buraco na internet pro qual eu corro quando me sinto miserável): “O mundo é bastante ilógico, mas –confesso- meu coração o supera”.
          Ilógica pode ser uma forma gentil de se referir à ideologia por meio da qual eu ministro meus relacionamentos. Não especificamente dessa vez, veja bem, o amor que eu nutro pôde sempre ser classificado como estúpido. Cego não: foi um dia, hoje usa óculos. Apenas estúpido, burro, grande e inegavelmente esperançoso.
          E é a esperança que dói. Aquela história de morangos na beira do abismo¹ e tudo mais. A não completa desistência ainda, o limite que de alguma forma não deu as caras mesmo depois de tudo. Eu sou um poço imensurável de passividade mesmo, um poço de perdão. Eu xingo, desligo na cara, bato porta, grito, choro, rodo a baiana, mas se me seduzir sendo bonzinho, eu vou, sorrindo. Pequenos momentos que se fazem válidos e me seduzem. Eu vou, a cada passo sentindo internamente o quanto eu e o meu amor somos dois teimosos do caralho que adoram ter pequenas lágrimas nos olhos. Eu vou, eu e meus morangos do abismo. Inclusive acho que é a ingestão desses morangos que estão apertando minha garganta.
          A Pia é triste ainda, e grandíssima parte das pessoas não faz ideia. Segredinho meu com Deus.

Pretendo que essa seja uma das últimas postagens do bloguinho... ultimamente venho querendo manter meus fluxos de pensamentos só pra mim, apesar da sensação de desabafo que o Crying in the Pia me proporcionou nesses anos e ainda proporciona de forma mais tênue. Ao longo dos anos desde a criação deste blog, eu aprendi que chorar quase nunca resolve nada -por mais que eu continue chorando horrores esporadicamente- , e fico um pouco feliz de encerrá-lo reparando que digivolvi nesse aspecto. 
 Não sei ao certo quantas pessoas ainda me leem, quem em sã consciência dedica parte do tempo corrido pra dar uma olhadinha no que eu penso, mas ainda sim: obrigada por serem interlocutores do meu mimimi e ficarem aqui comigo mesmo quando eu fui tudo, menos legal, justa e sã em meus devaneios. Perdão por isso.
Acho que a gente ainda se fala por aí.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Benção?

"E eu tenho certeza que ele gosta de você. Assim como eu tenho certeza que o X gosta de mim. A questão é: eu sendo quem sou não quero alguém que goste como ele gosta. Do mesmo jeito que você sendo quem é precisa, ou, no mínimo, merecia alguém que gostasse de você diferente de como ele gosta. Mas é deles que a gente gosta! Então eu me pego pensando, às vezes a solução é viver com isso, aprendendo a lidar, sei lá? Aprendendo a tocar o foda-se pra certas coisas? Mas aí eu lembro do sangue quente que corre nas minhas veias e sei que isso nunca vai ser possível pra mim, vai contra minha personalidade, contra quem eu sou... Mas aí já vai de você."

      Ás vezes tudo que você precisa é de um amigo no Whatsapp pra te fazer sentir especial de novo... A ignorância pode até ser uma benção, mas é importante ter conhecimento, nem que seja parcial, dos fatos, pra poder analisar uma situação de forma ampla e lógica.

domingo, 25 de maio de 2014

Ah, Gabito...

          "Você é aquele tipo de pessoa inconfiável, seus movimentos são joguinhos manipuladores, seus discursos nem se fala. Já faz tempo que parei de guiar minha vida com suas frases de para-choque de caminhão. Fui embora. Agora de uma vez. Sem volta e sem conversa. 
          Voltei para a casa dos meus pais, mas não por muito tempo. Meu antigo quarto virou uma sala de cinema. Talvez eu volte pra Lisboa. Aliás, não te interessa. Não estou dizendo isso porque no fundo te quero ralando joelho pelas ruas atrás de mim. Não dessa vez. Não vem com bombons, não vem com desculpas, não vem com canções. Não vem. 
          Se você tiver a fim de compreender o presente, precisa analisar o passado. Todo ele, dia a dia, cada palavra, seu borderô de atitudes passadas. Dá uma olhada em tudo que você fez e me diz. Viu? A novidade é que o dia que eu sempre prometi que viria, e que você nunca esperou chegar de verdade, veio. Eu cansei. Não sou mais eu. 
          Contou os anos? Quanto tempo esperei por você? Você crescer, você mudar, você mostrar algum remorso. Você tem de querer. Embora eu queira muito, mesmo eu querendo em dobro, não há como querer por você. 
          Só quem enfrenta longas esperas sabe como é o inferno por dentro. Eu sempre falei, um dia alguém tinha de te dizer não. Eu queria que não fosse eu, porque aí eu poderia ficar numa boa e assistir você sofrer, nem que seja calado num canto, mas sofrendo, mostrando algum arrependimento ou qualquer traço humano. Quem sabe eu até enfiaria os dedos ainda com anéis no meio dos seus cabelos e diria que tudo ficaria bem. Agora é tarde, meu anel já se foi, nem os dedos ficaram. 
          Só que você sempre dá um jeito de se safar. Ficar seria tolerar suas mancadas. Você precisa perder pra entender onde errou, que isso que você faz é um erro, um dos feios. Que evitar e não tocar mais no assunto não é perdão ou esquecimento. É sufocar. E eu estava sufocando, morrendo na praia em frente ao mar de rosas que você anunciou, cheia de pétalas grudadas no céu da boca, entupindo os bofes, sem ar, uma vontade constante de regurgitar de volta suas garantias de araque. 
          Partes de mim querem ir embora, partes de mim querem ficar. Ainda não terminei de gostar de você. Mas consegui. Agora fui. 
          Porque comecei isso querendo ser sua companheira, passei a cúmplice das suas maldades, e ficar dessa vez vai me fazer sua comparsa. Não é um “até amanhã”’ nem “até breve” e nem “até mais”. É um “até você mudar” ou “até você não ser mais quem você é”. 
          Até nunca, então.
                                                                                          — Gabito Nunes.